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PT Quando me perguntam "Porquê África?", "O que te faz partir assim?", "Não tens medo?". Eu nunca dou uma resposta de jeito. Tento dizer isto e aquilo, dar um de muitos exemplos, pegar nos melhores dias da minha vida e explicá-los em palavras.
Mas falta-lhes a magia e a plenitude que apenas a experiência traz.
Explicar em poucas palavras a felicidade pura que as pessoas, os lugares e os momentos que África encerra em si, é algo para o qual nunca tive muito jeito. E acho que nunca vou ter. Porque não é possível. Não é que eu não goste de palavras - nada disso. As palavras ficam, para sempre. E conto com elas para me lembrar com pormenor de todos os dias mágicos que vivi por aqui - um dia mais tarde.
Todos os dias constróis a tua história. Coleccionas momentos, conheces pessoas, vives experiências que não podes "desviver". A partir do momento em que está feito, está feito. Sem direito a "bis", "retroceder" ou "pausa". Muitas vezes, o tempo passa, voa. Há quem diga que a vida é curta (...) para nós, que vivemos tantos anos - que disparate!
Tudo o que precisas de fazer, é descobrir como viver esta Vida ao máximo. Se todos os dias, conseguires viver de uma forma plena; se encontrares aquilo que te move; se fores feliz naquilo que fazes: a Vida vale a pena, e muito. E já que só podemos vivê-la uma vez, mais vale tomar o máximo partido de tudo o que podemos ser nela.
Mesmo que me peças muito. Mesmo que eu te ponha numa casa vazia, sem luz, sem água, sem internet - com um fogareiro a carvão e um balde de água para tomares banho. Mesmo que eu te faça sentar no chão para comer à mão a pasta de farinha que fervi em água. Mesmo que eu te faça viver um dos meus dias: nunca te vou explicar o quanto vale a pena.
Porque nunca te vou conseguir fazer sentir o mesmo que sinto sempre que vejo um bebé respirar depois de um parto caótico. Sempre que me deito no silêncio da noite a olhar as estrelas. Sempre que vejo uma criança a andar quando ainda no dia anterior tive tanto medo de não voltar a vê-la acordar. Quando chego à minha aldeia depois de um fim-de-semana fora e as crianças correm na minha direcção, genuinamente felizes por eu ter voltado.
Da próxima vez que me perguntarem "Porquê África?", eu vou responder "porque me faz feliz". Essa é a resposta mais sincera e verdadeira. E tenho a certeza que se pudesses sentir tudo o que eu sinto - ias perceber e ficarias feliz também.
Com amor,
Cristina
EN When people ask me "Why Africa?", "What makes you leave like that", "Aren't you afraid?". I can never give a good answer. I try to say this and that, give one or two examples, take some of the best days of my life and explain them in words. But it lacks all the magic that these experiences have.
Explaining in a few words the pure happiness that the people, the places and the moments that Africa has been given to me, is something that I could never really do. And I think I never will, because it's impossible. Not that I don't like words - that's not the reason, at all. Words will stay forever. And I'm counting on it to make me remember all the wonderful days I've had here - someday later.
Everyday, you build your own story. You collect moments, meet people, live experiences that you can't "unlive" anymore. When it's done, it's done. No chance to press "repeat", "back" or "pause". A lot of times, you'll feel that time goes by quickly, it flies. Some people even say that life is short (...) for us, who live for so many years - complete nonsense!
All you need to do, is finding how to make the most of this life you have. If you manage to live life fully; if you find what moves you; if you are happy doing whatever you're doing: life is sooo much worth it. And as we can only live it once, we'd better make it a good one.
Now, even if you ask me a lot. Even if I put you in an empty house, no light, no water, no internet - with some charcoal to make food and a bucket of water to shower. Even if I seat you down on the floor while giving you some flour boiled in water to eat with your hands. Even if I made you live one of my days: I don'tthink you would ever quite understand.
Because I will never be able to make you feel what I feel everytime I see a baby breathe after a chaotic delivery. Everytime I lay down outside in the quiet, looking at the stars. Everytime I see a kid walking, when just the day before I was so afraid that he wouldn't wake up anymore. When I arrive to my village and the children run towards me, genuinely happy to see me.
Next time someone asks me "Why Africa?" my answer will be : because it makes me happy. That’s the most honest answer. And I'm pretty sure that if you could feel everything I feel - you would understand and it would make you happy too.
With love,
Cristina
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